quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Glossário da sustentabilidade

Então,
A partir de hoje iniciaremos a construção de um glossário da sustentabilidade. Cada dia um conceito será publicado. Muitos deles serão retirados do Glossário da Sustentabilidade do curso de Planejamento de Gestão para o Desenvolvimento Rural, da UFRGS.

desenvolvimento:

É um termo amplo que em geral tem a conotação de mudança, um processo dinâmico de crescimento, melhoria, avanço. Mas também pode referir-se ao ato de desenvolver-se, como o ato de retirar o invólucro, desenrolar-se. Como coloca Scatolin (1989, p. 6): “poucos são os outros conceitos nas Ciências Sociais que têm-se prestado a tanta controvérsia. Conceitos como progresso, crescimento, industrialização, transformação, modernização, têm sido usados freqüentemente como sinônimos de desenvolvimento. Em verdade, eles carregam dentro de si toda uma compreensão específica dos fenômenos e constituem verdadeiros diagnósticos da realidade, pois o conceito prejulga, indicando em que se deverá atuar para alcançar o desenvolvimento.

Assim, este termo genérico pode ter diferentes dimensões: ambiental, cultural, econômico, político e social. No contexto da disciplina, coloca-se que estas dimensões mantém uma estreita conexão entre si. A referência ao desenvolvimento econômico, a partir da qual tem-se termos como países desenvolvidos/ subdesenvolvidos ou em desenvolvimento referindo-se ao nível de desenvolvimento dos países (assim subdesenvolvimento é uma situação em que o pais apresenta: dependência econômica externa, grandes desigualdades sociais e precárias condições de vida de grande parte da população) implica em tensionarmos a compreensão de desenvolvimento nas outras dimensões.

desenvolvimento humano está ocupando lugar central no debate sobre o desenvolvimento desde o início da década de 1990. A questão central passa da tradicional pergunta de quanto se está produzindo para como isto está afetando a qualidade de vida da população. Para difundir essa idéia, a Organização das Nações Unidas vem realizando uma série de conferências que abrangem direta ou indiretamente as questões sociais.

Atrelado a esta preocupação, emerge a preocupação com as condições ambientais donde propõe-se o termos DesenvolvimentoSustentável. O conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu em 1987 no Relatório «O Nosso Futuro Comum», mais conhecido por Relatório Brundtland, que o definiu como: O processo de desenvolvimento que permite às gerações actuais satisfazerem as suas necessidades sem colocar em perigo a satisfação das necessidades das gerações futuras.

Este conceito centra-se na idéia de desenvolvimento das sociedades atuais sem exploração exaustiva de recursos naturais, sob pena de comprometer a sobrevivência das gerações futuras. Para isso, o Desenvolvimento Sustentável implica necessariamente a articulação das áreas econômica, social e ambiental num contexto de economia global.

desenvolvimento sustentável, como percurso para a sustentabilidade pretende ser economicamente eficaz, socialmente equitativo e ecologicamente sustentável. Respeita os recursos naturais e os ecossistemas, sem perder de vista a pobreza, contra os desequilíbrios demográficos, contra as desigualdades e contra a exclusão, bem como níveis crescentes de satisfação das pessoas na comunidade a que pertencem. Reflete na sua essência, uma comunidade orientada sobretudo para a dimensão humana. Nesta medida, o desenvolvimentosustentável baseia-se numa “parceria ética” e integra e persegue necessariamente a qualidade de vida das comunidades, num contexto de equidade intergeracional.

Atrelado a estes debates, outro termo tem que tem sido difundido refere-se ao desenvolvimento local. Este conceito abrange uma estratégia que deve garantir para o território em questão – seja comunidade, município ou microrregião – uma melhoria das condições sócio-econômicas a médio e longo prazo (Abramovay, 1998). De caráter, fundamentalmente endógeno, este conceito busca um processo sustentável de aproveitamento das oportunidades e capacidades locais, pressupondo a participação de todos os atores sociais e econômicos, públicos e privados. Este processo deve representar não a aplicação de pacotes tecnológicos ou empresariais, mas um processo dinamizador e catalisador das oportunidades existentes naquele território.

 ABRAMOVAY, Ricardo. A formação do capital social para o desenvolvimento sustentável. Trabalho apresentado no II Fórum Contag de Cooperação Técnica. São Luiz, 1998.

OLIVEIRA, G.B. Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento. Rev. FAE, Curitiba, v.5, n.2, p.37-48, maio/ago, 2002.

RELATÓRIO BUNDTLAND. http://www.worldinbalance.net/agreements/1987-brundtland.php

SCATOLIN, F.D. Indicadores de desenvolvimento: um sistema para o Estado do Paraná. Porto Alegre. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal do rio Grande do Sul. 1989

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cerveja

Acabou de sair do fermentador, direto para as garrafas, mais um lote da nossa cerveja artesanal. Esse lote é do tipo Real Ale, uma cerveja forte e encorpadíssima. Em breve degustaremos...
A propósito, pedimos sugestões para o nome do líquido precioso.
O melhor nome ganhará um prêmio surpresa: qual será?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ei-lo!

A AGRICULTURA URBANA REGENERANDO A MATA ATLÂNTICA


Na primavera de 2000, com apenas 21 anos de idade, Fernando Jorge Stankievich começou um trabalho de agricultura ecológica dentro da propriedade recém adquirida por sua família. Nasceu assim a Associação Morro Agudo, empreendimento rural de 3,5 hectares situado na zona sul de Porto Alegre, distando 25 Km do centro da capital e que tem por finalidade a produção sustentável e ecológica de alimentos de origem animal e vegetal.  

O trabalho no sítio ajuda a manter a reserva ambiental de Porto Alegre. Localiza-se na microbacia do arroio do Salso, a bacia hidrográfica de maior abrangência na capital. A região é um divisor de águas das bacias do arroio do Salso e do arroio Cavalhada. Situa-se numa área cuja preservação é fundamental, o entorno do Morro Agudo e do Morro da Tapera, que ainda preservam o belo patrimônio natural dos ecossistemas originais dos morros da cidade, com mato nativo e fontes naturais de água.

O espaço vem sendo construído como um laboratório vivo de produção, buscando aumentar a diversidade vegetal e animal, além de preservar o que resta da vegetação e assim buscar a recuperação da Mata Atlântica degradada.

Recuperação do solo

O início foi muito árduo, pois quando a propriedade foi adquirida pela família, o solo encontrava-se em deplorável estado de degradação, devido ao uso abusivo de venenos e adubação química. Anteriormente, ali eram cultivados pêssegos e ameixas pelo sistema agroquímico. Começou-se, então, o tratamento do solo, utilizando-se técnicas de recuperação por processos regenerativos. Atualmente após anos de biorremediação, o solo e o ambiente foram totalmente revitalizados, podendo ser considerada uma propriedade com condições de ser certificada como totalmente ecológica.    

O local é ponto de encontro para troca de experiências em agricultura ecológica, com visitantes constantes de uma rede de pessoas engajadas no processo e que pensam junto o espaço, alternativas de soluções, além de colaborar no trabalho de plantio, cuidado e colheita. A intuição para seguir em frente é um elemento forte para tentar reter toda a água possível e incrementar cada vez mais a vida da área.

Assim, o processo sempre contou com o apoio do escritório da Emater de Porto Alegre, de pessoas associadas à Cooperativa Ecológica COOLMÉIA e de agricultores da Cooperativa ArcooÍris de Porto Alegre. O processo de associativismo iniciou conjuntamente com o trabalho no campo. O empreendimento faz parte da APRESUL–Associação dos Produtores Rurais Ecologistas da Zona Sul de Porto Alegre e da ACREDITE, onde atua na articulação política em defesa da zona rural de Porto Alegre, pela preservação da cultura de produção ecológica local de alimentos e pela regeneração da Mata Atlântica.

 

Processo de Produção

A produção orgânica de verduras, frutas, ervas medicinais e a criação de animais caipiras(ovos e leite) visa trazer à população portoalegrense produtos em que a qualidade está para além das propriedades nutritivas do alimento em si: há um processo em constante aperfeiçoamento, no qual os ciclos se fecham, tendo como ponto de partida uma interação ecológica, o que constrói uma cultura de sustentabilidade ambiental.   

O suplemento nutricional para os animais é preparado com o acréscimo de proteínas vegetais, sem a utilização de produtos químicos nem de produtos geneticamente modificados. A alimentação dos animais é proveniente de plantas aquáticas (aguapés dos açudes), plantas arbustivas, como o rami e todos os restos das culturas, além do permanente pastoreio em piquetes com gramíneas, o que possibilita a utilização do sistema rotacional para melhor bem estar dos animais, criando um ambiente de interação.

Nos últimos meses foi iniciado o pastoreio de cabras, diversificando a criação animal. Elas são tratadas com muito carinho e semi-soltas. Alimentam-se exclusivamente do que encontram nos seus caminhos, além de sobras de frutas e verduras do local.

A propriedade conta com sistema de tratamento de esgoto, no qual todas as águas servidas são processadas e retornam ao sistema produtivo livres de qualquer tipo de contaminante.

O sistema de produção é totalmente ecológico e sustentável sob o aspecto ambiental, no qual não há qualquer produção de rejeitos externos. O ciclo é fechado.

O solo é fertilizado com adubação verde, húmus, esterco, pedras, preconizando a máxima utilização dos recursos naturais do local, principalmente o manejo racional da água potável, que é abundante, oriunda de fontes naturais de superfície e com a utilização de energia eólica para transporte e distribuição da água para as culturas. Aí também reside uma marca do trabalho de Fernando Jorge, o gosto pelo caminho da independência em relação ao petróleo. Além de ter investido desde o início em um catavento como fonte de energia para captação e distribuição da água na propriedade, Fernando também transformou ele mesmo o velho veículo da família em um carro bicombustível para poder movimentar-se com álcool, ao invés de derivados de petróleo. Desta forma, além de não utilizar quaisquer insumos petroquímicos nos cultivos, a distribuição através das feiras ou diretamente aos consumidores é feita com combustível renovável. O fogão a lenha é abastecido com os galhos encontrados na própria área. Assim, que é um sítio que opera totalmente sem depender de petróleo. Além disto, a proximidade com os consumidores faz do sítio o quintal da casa dos portoalegrenses que se abastecem de seus produtos. Abastecimento local em sintonia com a necessidade planetária urgente de se parar de consumir petróleo e outros combustíveis fósseis. Com a previsão futura de extremos climáticos é fundamental para a sobrevivência contar com uma rede local de abastecimento. Neste sentido, o trabalho de produção de alimentos dentro de uma grande capital se reveste de enorme importância.

 

Rede produção-consumo

Segundo Fernando Jorge, o propósito fundamental é estabelecer uma rede em que o consumidor participe efetivamente da sustentabilidade do empreendimento, promovendo um novo relacionamento entre produtor e consumidor, onde este último participa ativamente do processo. Desde a  interação com a seleção dos produtos disponíveis, escolhendo aqueles que mais lhe agradam. Inclusive influenciando no planejamento do ciclo produtivo, como no caso das cabras que foi demanda de consumidores desejosos de ter um leite proveniente de animais que não comessem ração, garantindo assim que não houvesse qualquer possibilidade de contaminação transgênica no alimento.

 

Geração de Trabalho e Renda

Além do envolvimento da família e dos parceiros e amigos, o sítio gera dois postos de trabalho, que são ocupados por dois empregados que atuam já há vários anos na propriedade e que tem uma vasta experiência no cultivo de hortículas e no tratamento de animais caipiras. São trabalhadores rurais que nunca utilizaram venenos ou produtos químicos de qualquer natureza em suas trajetórias de vida como agricultores e cresceram tratando a terra com o carinho que ela merece, por gerar os frutos que saciam as necessidades da humanidade.

 

Turismo Rural

O local já serviu como Hospedagem Solidária durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, ocasião que hospedou grupos de delegados de vários países da América Latina. O local é um oásis de descanso para a mente e de contato com uma Natureza de fauna e flora exuberantes. Uma oportunidade de se sentir no campo, dentro de Porto Alegre.

 

Como participar da rede de consumo

Os produtos da Associação Morro Agudo podem ser encontrados na banca da APRESUL na Feira Ecológica, aos sábados pela manhã, na Rua José Bonifácio, em Porto Alegre, em frente ao Parque Farroupilha e também às quartas-feiras,na Escolas Waldorf Arco-Iris e Querência, na Av. Arlindo Pasqualini, 232, no bairro Ipanema, em Porto Alegre, das 11 ás 14 horas.

A Associação Morro Agudo também recebe os clientes no sítio, que podem visitar a propriedade e escolher os produtos diretamente nas hortas, um esquema “colha e pague”, agendando a visita pelos telefones (51)3264-5660 e (51)9328-6045 ou pelo endereço eletrônico: agroecologicamorroagudo@gmail.com.

Para as pessoas interessadas em receber os produtos em casa, há a entrega a domicílio de cestas com os produtos da semana.