Na primavera de 2000, com apenas 21 anos de idade, Fernando Jorge Stankievich começou um trabalho de agricultura ecológica dentro da propriedade recém adquirida por sua família. Nasceu assim a Associação Morro Agudo, empreendimento rural de 3,5 hectares situado na zona sul de Porto Alegre, distando 25 Km do centro da capital e que tem por finalidade a produção sustentável e ecológica de alimentos de origem animal e vegetal.
O trabalho no sítio ajuda a manter a reserva ambiental de Porto Alegre. Localiza-se na microbacia do arroio do Salso, a bacia hidrográfica de maior abrangência na capital. A região é um divisor de águas das bacias do arroio do Salso e do arroio Cavalhada. Situa-se numa área cuja preservação é fundamental, o entorno do Morro Agudo e do Morro da Tapera, que ainda preservam o belo patrimônio natural dos ecossistemas originais dos morros da cidade, com mato nativo e fontes naturais de água.
O espaço vem sendo construído como um laboratório vivo de produção, buscando aumentar a diversidade vegetal e animal, além de preservar o que resta da vegetação e assim buscar a recuperação da Mata Atlântica degradada.
Recuperação do solo
O início foi muito árduo, pois quando a propriedade foi adquirida pela família, o solo encontrava-se em deplorável estado de degradação, devido ao uso abusivo de venenos e adubação química. Anteriormente, ali eram cultivados pêssegos e ameixas pelo sistema agroquímico. Começou-se, então, o tratamento do solo, utilizando-se técnicas de recuperação por processos regenerativos. Atualmente após anos de biorremediação, o solo e o ambiente foram totalmente revitalizados, podendo ser considerada uma propriedade com condições de ser certificada como totalmente ecológica.
O local é ponto de encontro para troca de experiências em agricultura ecológica, com visitantes constantes de uma rede de pessoas engajadas no processo e que pensam junto o espaço, alternativas de soluções, além de colaborar no trabalho de plantio, cuidado e colheita. A intuição para seguir em frente é um elemento forte para tentar reter toda a água possível e incrementar cada vez mais a vida da área.
Assim, o processo sempre contou com o apoio do escritório da Emater de Porto Alegre, de pessoas associadas à Cooperativa Ecológica COOLMÉIA e de agricultores da Cooperativa ArcooÍris de Porto Alegre. O processo de associativismo iniciou conjuntamente com o trabalho no campo. O empreendimento faz parte da APRESUL–Associação dos Produtores Rurais Ecologistas da Zona Sul de Porto Alegre e da ACREDITE, onde atua na articulação política em defesa da zona rural de Porto Alegre, pela preservação da cultura de produção ecológica local de alimentos e pela regeneração da Mata Atlântica.
Processo de Produção
A produção orgânica de verduras, frutas, ervas medicinais e a criação de animais caipiras(ovos e leite) visa trazer à população portoalegrense produtos em que a qualidade está para além das propriedades nutritivas do alimento em si: há um processo em constante aperfeiçoamento, no qual os ciclos se fecham, tendo como ponto de partida uma interação ecológica, o que constrói uma cultura de sustentabilidade ambiental.
O suplemento nutricional para os animais é preparado com o acréscimo de proteínas vegetais, sem a utilização de produtos químicos nem de produtos geneticamente modificados. A alimentação dos animais é proveniente de plantas aquáticas (aguapés dos açudes), plantas arbustivas, como o rami e todos os restos das culturas, além do permanente pastoreio em piquetes com gramíneas, o que possibilita a utilização do sistema rotacional para melhor bem estar dos animais, criando um ambiente de interação.
Nos últimos meses foi iniciado o pastoreio de cabras, diversificando a criação animal. Elas são tratadas com muito carinho e semi-soltas. Alimentam-se exclusivamente do que encontram nos seus caminhos, além de sobras de frutas e verduras do local.
A propriedade conta com sistema de tratamento de esgoto, no qual todas as águas servidas são processadas e retornam ao sistema produtivo livres de qualquer tipo de contaminante.
O sistema de produção é totalmente ecológico e sustentável sob o aspecto ambiental, no qual não há qualquer produção de rejeitos externos. O ciclo é fechado.
O solo é fertilizado com adubação verde, húmus, esterco, pedras, preconizando a máxima utilização dos recursos naturais do local, principalmente o manejo racional da água potável, que é abundante, oriunda de fontes naturais de superfície e com a utilização de energia eólica para transporte e distribuição da água para as culturas. Aí também reside uma marca do trabalho de Fernando Jorge, o gosto pelo caminho da independência em relação ao petróleo. Além de ter investido desde o início em um catavento como fonte de energia para captação e distribuição da água na propriedade, Fernando também transformou ele mesmo o velho veículo da família em um carro bicombustível para poder movimentar-se com álcool, ao invés de derivados de petróleo. Desta forma, além de não utilizar quaisquer insumos petroquímicos nos cultivos, a distribuição através das feiras ou diretamente aos consumidores é feita com combustível renovável. O fogão a lenha é abastecido com os galhos encontrados na própria área. Assim, que é um sítio que opera totalmente sem depender de petróleo. Além disto, a proximidade com os consumidores faz do sítio o quintal da casa dos portoalegrenses que se abastecem de seus produtos. Abastecimento local em sintonia com a necessidade planetária urgente de se parar de consumir petróleo e outros combustíveis fósseis. Com a previsão futura de extremos climáticos é fundamental para a sobrevivência contar com uma rede local de abastecimento. Neste sentido, o trabalho de produção de alimentos dentro de uma grande capital se reveste de enorme importância.
Rede produção-consumo
Segundo Fernando Jorge, o propósito fundamental é estabelecer uma rede em que o consumidor participe efetivamente da sustentabilidade do empreendimento, promovendo um novo relacionamento entre produtor e consumidor, onde este último participa ativamente do processo. Desde a interação com a seleção dos produtos disponíveis, escolhendo aqueles que mais lhe agradam. Inclusive influenciando no planejamento do ciclo produtivo, como no caso das cabras que foi demanda de consumidores desejosos de ter um leite proveniente de animais que não comessem ração, garantindo assim que não houvesse qualquer possibilidade de contaminação transgênica no alimento.
Geração de Trabalho e Renda
Além do envolvimento da família e dos parceiros e amigos, o sítio gera dois postos de trabalho, que são ocupados por dois empregados que atuam já há vários anos na propriedade e que tem uma vasta experiência no cultivo de hortículas e no tratamento de animais caipiras. São trabalhadores rurais que nunca utilizaram venenos ou produtos químicos de qualquer natureza em suas trajetórias de vida como agricultores e cresceram tratando a terra com o carinho que ela merece, por gerar os frutos que saciam as necessidades da humanidade.
Turismo Rural
O local já serviu como Hospedagem Solidária durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, ocasião que hospedou grupos de delegados de vários países da América Latina. O local é um oásis de descanso para a mente e de contato com uma Natureza de fauna e flora exuberantes. Uma oportunidade de se sentir no campo, dentro de Porto Alegre.
Como participar da rede de consumo
Os produtos da Associação Morro Agudo podem ser encontrados na banca da APRESUL na Feira Ecológica, aos sábados pela manhã, na Rua José Bonifácio, em Porto Alegre, em frente ao Parque Farroupilha e também às quartas-feiras,na Escolas Waldorf Arco-Iris e Querência, na Av. Arlindo Pasqualini, 232, no bairro Ipanema, em Porto Alegre, das 11 ás 14 horas.
A Associação Morro Agudo também recebe os clientes no sítio, que podem visitar a propriedade e escolher os produtos diretamente nas hortas, um esquema “colha e pague”, agendando a visita pelos telefones (51)3264-5660 e (51)9328-6045 ou pelo endereço eletrônico: agroecologicamorroagudo@gmail.com.
Para as pessoas interessadas em receber os produtos em casa, há a entrega a domicílio de cestas com os produtos da semana.